Saber fazer escolhas conscientes talvez seja a principal delas



Quando olho à minha volta, muitas das mulheres que vejo me dão às vezes a impressão de estarem pressionadas, numa vida atribulada mas não plena, como se estivessem vivendo – paradoxalmente – pela metade.

Que contexto é esse em que nos encontramos? Como chegamos até aqui? Qual o legado que outras gerações de mulheres nos deixaram? Onde estamos neste momento? Essas são perguntas que me ocupam hoje, rondam meu pensamento, mexem com minhas emoções, como ser humano, e não só como mulher.

Contam que na Idade Média as mulheres não eram enterradas em cemitérios porque, assim como os animais, duvidava-se que tivessem “alma”. O direito de primogenitura (aquele que garante ao filho mais velho o direito de herdar a administrar o patrimônio familiar) não incluía as mulheres. 

Em alguns países elas não poderiam herdar a coroa. Agorinha mesmo, no século passado, nem faz tanto tempo assim, não podiam estudar, trabalhar e votar. A ela eram reservados apenas os cuidados com a casa e os filhos, e lá ficavam presas num circuito que acabava se transformando em ciclo – casar, ter filhos, cuidar do marido.

Ao longo da história, elas se revoltaram, reinaram, inventaram, salvaram vidas: ou seja, mudaram o mundo. No século passado, muito desse cenário foi superado/mudado/transformado, ao menos no mundo ocidental, e foram muitas as razões:

  • a luta das mulheres sufragistas pela conquista do voto feminino;

 a descoberta da pílula anticoncepcional;

  • a mulheres que batalharam para sair de casa e construir carreiras de sucesso;
  • mulheres brilhantes que, no seu campo de estudos, mudaram o mundo em que vivemos.

Em muitos momentos foram exigências do próprio mundo masculino que empurraram o feminino para fora de si mesmo, como durante a 1ª e a 2ª Guerras Mundiais, quando a ausência dos homens obrigou as mulheres a arranjar empregos e forçou as empresas a aceitá-las como funcionárias. Não por acaso grandes momentos de mudanças vieram no rastro dessas dificuldades.

A figura feminina passou de virgem e mãe, a mulher. Hoje ela dirige países e comanda impérios econômico-financeiros. Pratica esportes por séculos considerados masculinos, e atua em profissões também consideradas restritas aos homens, apenas alguns anos atrás. E tudo isso mesmo com resistência muda em muitos setores, como o intelectual, vale dizer.

Uma nuance discutível e delicada, no entanto, é a mulher como fêmea. Na Europa, por exemplo, registe-se e critica-se mais do que no Brasil a veiculação de imagens publicitárias meramente calcadas na sexualidade feminina. Sensualidade sim, dizem as feministas, objeto sexual não!

O feminino tem questões só suas, como essa. Afinal, ele é mescla de sutileza e especificidade, e essa trama determina sua força e seus pontos frágeis. O masculino é binário, o feminino nem um pouco…

Por exemplo: com as conquistas, a mulher teve seu campo de visão ampliado e passou a ter novas opções/obrigações: ser boa dona de casa, mãe, filha, esposa, profissional, magra, inteligente, enfim, ser a mulher-maravilha.

Nesse acumular de papéis, a nova mulher não consegue estar presente em nenhum desses lugares – sobrecarregada, ela se debate num aqui e agora, enquanto pensa no passado e no futuro. O presente é um pesadelo. A abertura do número de possibilidades aumentou tanto que a mulher perdeu o foco. E se perdeu.

O grande desafio da mulher no século 21 é saber fazer escolhas conscientes, que respeitem sua essência e seus limites, ou seja, escolhas que a fazem estar mais inteira e plena, na vida e nas suas relações. 

 

(Fonte: blog> aurora@programaaurora.com.br)