Confira a história da relação de uma mulher com seu próprio corpo antes e depois da maternidade. Uma lição de amor e baita inspiração para o Dia das Mães!

A pesquisadora e blogueira Nicole Spohr, 31, diz nunca ter sofrido preconceitos pelo seu corpo e aparência. Mesmo assim, quando seu filho Guto nasceu, em 2015, aprendeu uma lição sobre autoimagem e amor próprio, que conta neste depoimento exclusivo. Confira na íntegra o relato:

“Antes de tudo, preciso dizer que sou uma mulher branca, magra, de cabelos lisos e olhos claros. Não fiz nada para ser assim, apenas tive a ‘sorte’ de nascer no mundo numa época em que este é o padrão de beleza. Então nunca sofri preconceito por ser como sou nem tive muitas neuras sobre meu corpo. Em alguns momentos, caí na cilada de achar que precisava ‘perder uns quilinhos’, mas logo percebi que isso era uma besteira.

Engravidei. Passados os meses iniciais de enjoo e indisposição, lembro de sentir uma conexão muito forte com meu corpo. Ao acariciar minha barriga, percebia a potência da natureza e a minha potência. Afinal, sem grandes esforços, eu estava gerando um ser supercomplexo, do nada. E isso é absolutamente incrível. Eu me achava bonita mas, mais do que isso, me achava incrível, poderosa. Achava muito cruel a patrulha sobre o corpo da mulher grávida: só pode engordar tanto, não pode comer isso, nem beber aquilo. Me deixem em paz, eu sei o que fazer com meu corpo! 

Briguei um bocado para ter o parto que queria. De novo é o corpo da mulher que está sendo controlado. Me disseram que, se estivesse tudo bem, eu poderia ter um parto normal (deveria ser o contrário!) e que depois de tanto de dilatação, ‘era hora’ da anestesia, mesmo sem eu ter solicitado. Mudei de médico e de cidade para poder parir em paz.

Entendi que cabia a mim colocar meu filho no mundo. Me cerquei de todo o apoio possível, mas eu queria ser a protagonista daquele momento. Não existe essa de ‘o médico ou a médica fez meu parto’. O que eles fizeram foi assistir a mulher em trabalho de parto, pois o trabalho foi todo dela. Mudar de perspectiva muda tudo. Consegui parir naturalmente e essa foi a experiência mais transformadora da minha vida. Foi difícil, foi longo, foi extenuante, mas eu dei conta: meu corpo colocou um outro corpo no mundo.

Passado algum tempo do nascimento do meu filho, comecei a refletir sobre a pressão de ‘voltar ao corpo de antes’. Em primeiro lugar, isso é absolutamente impossível. A mulher que coloca um bebê no mundo, independente da via de parto, não é a mesma de antes, então seu corpo não voltará ao que era antes.Não é o tipo de parto que realmente importa, pois gerar uma vida dentro de nós já é em si uma belezura sem tamanho.

Depois de uma experiência tão marcante como gerar e dar à luz uma criança, é triste que a sociedade nos ‘culpe’ por alguns quilos que agora se acumulam no nosso corpo. Gente, estamos aqui cuidando do futuro da humanidade e vocês querem dizer quantos quilos eu devo pesar? É simplesmente absurdo.

E essa exigência de um padrão de corpo vai muito além disso. Quando parei de amamentar, que foi outra experiência marcante, obviamente notei que meus seios não eram mais os mesmos. Estavam menores, mais murchos. Sempre foram pequenos, mas agora estavam definitivamente fora do padrão. Mas, se cruzasse um pensamento na minha cabeça no sentido de modificá-los, eu logo me reconectava comigo mesma, lembrava da potência do meu corpo, de tudo o que passamos juntos e mandava o padrão de beleza para aquele lugar.

Meu corpo é perfeito do jeito que é, sem tirar nem por. E foi a maternidade que me presenteou com essa consciência”.

Gostou do texto? A Nicole escreve mais sobre o assunto em seu blog, o Fala Frida, onde também encoraja outras mulheres a compartilharem suas experiências.

Por Chloé Pinheiro |Bebe.com.br