Como as agências de publicidade se adaptaram ao período de pandemia?

O mundo está passando por uma grave crise sanitária e, por conta disso, a economia também está sendo fortemente afetada. Assim, as agências de Publicidade precisaram se adaptar a este período, criando estratégias para seguirem atuantes e, mais do que isso, fazerem com que os seus clientes continuem relevantes em uma realidade com menos receita e mais restrições.

Assim, para entender como estão sendo os movimentos das empresas perante a nova realidade trazida pela Covid-19, Coletiva.net entrou em contato com representantes de três agências de Porto Alegre, que responderam às mesmas perguntas e deram os seus pontos de vista sobre a situação. Luciano Vignoli, diretor-presidente da e21; Gabriel Fuscaldo, head de Performance da Moove; e Fábio Bernardi, sócio-diretor da Morya, foram os responsáveis por apresentar o atual panorama de suas empresas frente ao mercado.

Segue a entrevista:

Qual é o papel da publicidade em tempos de pandemia?

Vignoli: “Nosso papel é o de sempre: mostrar que a marca é relevante na vida das pessoas. Ontem, agora e sempre. Mostrar que a marca é familiar, presente, parceira, que entende o momento difícil que atravessamos, mas que aposta que retomaremos nossas vidas – de um jeito ou de outro – e que estaremos, como marca, vivos, atuantes e prontos para melhorar, sempre, a vida que levamos. Afinal, é isso ao que as marcas se propõem em essência”.

Fuscaldo: “A publicidade assume papel essencial nesta sociedade conectada, que mescla informação em demasia por um lado, comunidades de nicho por outro. Cada vez mais, as pessoas se relacionam com marcas e seus conteúdos. E, felizmente, essas marcas cada vez mais encontram formas de ajudar as pessoas, além da simples venda de produto ou prestação de serviço. A importância social desta interação se intensificou no período pandêmico, isso ficou muito claro, apesar das diversas crises causadas pelo vírus, entre elas a crise da desinformação”.

Bernardi: “É o mesmo de sempre: ajudar a vender, sejam ideias, serviços, produtos ou reputações. Mas, em tempo de pandemia, esse desafio fica enorme, já que os canais de venda, o comportamento das pessoas e o consumo de mídia estão profundamente alterados”.

Como se manter relevante em um período de pandemia, uma vez que, durante as crises, os gastos com comunicação são quase sempre os primeiros a serem cortados?

Vignoli: “Oferecendo ao cliente soluções de negócio. Oportunidades de vendas. Formas de mostrar ao mercado vitalidade, criatividade e força. A peteca não pode cair. E temos de ser fonte motivadora para isso. E, se me permitem, falar sobre cortes de verba como medida de todos me parece simplista. Hoje, pessoas estão sendo demitidas às centenas, contratos de fornecedores sendo cancelados/renegociados e impostos postergados. É uma situação caótica, nunca vista. Portanto, sim, os investimentos podem desaparecer se não se mostrarem relevantes, fundamentais. Ou se o gestor for medíocre”.

Fuscaldo: “As agências –  e a Moove, especialmente -, são experts em mudanças e já viram a disrupção muitas vezes na área do marketing, da comunicação, da propaganda e da publicidade. Os efeitos do vírus são graves, mas aproveitamos o momento justamente para fazer apenas o mais relevante, o necessário. Aproveitamos para avaliar pontos de desperdícios na nossa entrega, buscando estar mais próximos aos nossos clientes e mais eficientes. Esta nova era nos traz novos níveis de colaboração”.

Bernardi: “Não necessariamente são os primeiros, depende do segmento e também de como agência e cliente se enxergam neste momento, qual nível de parceria e de enfrentamento farão diante de um cenário perturbador e que vai gerar inúmeros e demorados reflexos. A relevância nasce da dor de dono, da intensidade com que se vive o momento e do nível de entrega, inclusive emocional, que os envolvidos colocam no jogo”.

De que forma a agência se readaptou para essa nova realidade?

Vignoli: “Em primeiro lugar, garantindo que as entregas se mantivessem em alto nível, mesmo operando da noite para o dia em home office; em segundo lugar, revendo toda a operação e buscando um modelo de atuação com fluidez e simplicidade, eliminando processos de burocracia elevada; terceiro, controlando tudo: produtividade, eficácia, rentabilidade de contratos, etc.; quarto, fazendo uma aproximação brutal com os clientes. Vivendo a vida deles. Dividindo as dores. Trabalhando muito para mostrar caminhos; quinto, vasculhando o mundo digital atrás de oportunidades, consumidores e negócios; e, por último, atuando com criatividade estratégica. Aquela que é capaz de trazer resultados em curto prazo e valor de marca para sempre”.

Fuscaldo: “A estratégia foi colocar a saúde em primeiro lugar. Quando entendemos que a propagação poderia acelerar, em meados de março, implantamos o isolamento. Em três dias, a Moove passou a operar com todos seus funcionários de forma remota. A agência já operava 50% na nuvem, e a transformação digital acelerada faz com que hoje nosso índice já esteja em 80%. Até o fim de 2020, teremos quase toda operação da agência 100% na nuvem. Fomos privilegiados, pois nosso serviço pôde continuar, independentemente das restrições do vírus”.

Bernardi: “Acho que a Morya foi a primeira agência a fazer home office total. Decidimos em 15 de março e no dia 16 já estávamos com 100% da equipe operando de suas casas. Afora os inevitáveis movimentos operacionais de ajustes (TI, redes, nuvem etc), tivemos, desde o primeiro minuto, um espírito coletivo que superou as expectativas e deu segurança operacional e emocional para que pudéssemos ajudar nossos clientes a passar pela pandemia sem que a sua agência fosse mais um problema nessa hora. E, nesta readaptação, também acabamos por oferecer serviços que não tínhamos e fazer pontes com startups que pudesse oferecer soluções inovadoras para um momento inédito nosso e dos clientes”.

Como estão sendo realizados os trabalhos da agência, uma vez que o distanciamento social é fundamental?

Vignoli: “Foi um aprendizado. Descobrimos que operar 100% em home office não significa perda de produtividade. Ao contrário, dá pra executar tudo com muita integração através de calls objetivas, curtas e assertivas. É preciso manter um ritmo intenso, com uma equipe comprometida e com lideranças inspiradoras. Velocidade. Simplicidade. Efetividade”.

Fuscaldo: “Colhemos ônus e bônus no nosso novo modelo de trabalho a distância. Ficar em casa, sem contato social, muitas vezes com pouca dose de exercício físico, naturalmente faz níveis de estresse e ansiedade subirem. Temos conversado sobre entre os colegas, buscamos auxílio psicológico, fazemos lives nas quais todos interagem para tentar deixar o ambiente mais saudável. No Dia das Mães, todos nós participamos de um show da banda ‘Samba e Amor’. Foi muito bom. No âmbito do trabalho, estamos correndo, creio, melhor que antes. É só minha opinião. Mas a distância nos fez mais assertivos na comunicação interna. Reuniões são realizadas mais rápido. Nossa estrutura de TI, apesar de ainda contar com problemas, colaborou muito para que os trabalhos tenham sido mais eficientes”.

Bernardi: “Todo mundo em suas casas, operando por videoconferência, fazendo tabelinhas remotas. Não voltamos a trabalhar na sede e nem sequer estamos fazendo reuniões presenciais. E vamos decidindo a cada quinzena, junto com a equipe, o que faremos a seguir. Fizemos uma pesquisa com todos os colaboradores sobre o momento, como estávamos reagindo e também como e quando deveria ser a nossa volta”.

Como você enxerga o futuro da publicidade após a pandemia?

Vignoli: “Na e21, acreditamos que atuamos em um negócio maior do que a publicidade: estamos no ramo da geração de sucessos empresariais. Antigamente, dava pra se ater a gerar boa propaganda para se chegar lá. Hoje, temos que ter habilidades múltiplas para isso. Precisamos ser um grande parceiro estratégico definidor de um storytelling de marca, criador de uma gestalt além do design e capaz de orquestrar conteúdo relevante para segurar uma narrativa multicanal integrada e eficiente. Quem conseguir evoluir nesse modelo, tem um baita papel no futuro. Quem ficar falando em publicidade, somente, vai ser somente mais uma vítima da Covid-19”.

Fuscaldo: “A mudança é a única constante. A boa informação é cada vez mais relevante e essencial à vida das pessoas, e a publicidade pode ser o meio das empresas prestarem este serviço e criarem relacionamentos humanos de valor”.

Bernardi: “Com otimismo para a importância da publicidade enquanto propagação de ideias necessárias para um novo mundo, cheio de novos futuros possíveis. Mas não tão otimista quanto aos negócios da publicidade. Acho que esta crise vai acelerar um empobrecimento dos players e aqueles que não possuem fundamentos sólidos de gestão e de mindset tendem a ter muitas dificuldades de sobrevivência”.

Fonte: www.coletiva.net/comunicacao