Futebol Feminino: uma história de resistência

A história de resistência do futebol feminino tem referências antigas. Os primeiros indícios de mulheres em jogos com bola datam desde o tempo da Dinastia Han na China, antes dos anos 220 d.C. Outros relatos indicam que havia disputas femininas de futebol na Escócia no ano de 1790, depois em 1863 e, segundo a FIFA, a primeira partida oficial entre mulheres foi disputada no dia 23 de março de 1885, em Crouch End, Londres, Inglaterra.

Em termos de documentação, o arquivo mais conhecido sobre o início do futebol feminino é referente a 1894, quando Nettie Honeyball, uma ativista dos direitos da mulher, fundou o primeiro clube desportivo britânico chamado “Ladies Football Club”. Honeyball era uma mulher convicta de sua causa, e declarou sua pretensão em mostrar que as mulheres poderiam alcançar a emancipação e ter um lugar importante na sociedade.

As Honeyballers - mulheres que lutaram para jogar futebol, crédito BBC News

As Honeyballers – mulheres que lutaram para jogar futebol, crédito BBC News

1939 - Preston Ladies Football Club - Hulton Archive / Getty Images

1939 – Preston Ladies Football Club – Hulton Archive / Getty Images

Primeira Guerra Mundial e o futebol feminino na Europa

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) abriu espaço para as mulheres no futebol na Inglaterra. Como inúmeros homens foram destinados à guerra, as mulheres foram introduzidas na força trabalhadora. Diante desse novo cenário, muitas fábricas tiveram suas próprias equipes de futebol que até então eram formadas apenas por homens.

Em 1921, os campeonatos de futebol masculino retornaram e o espaço conquistado pelas mulheres passou a ser visto como ameaça e não como complemento. A Federação Inglesa de Futebol sentiu o paradigma e decidiu que já não havia motivo lógico para que mulheres continuassem a praticar o esporte. Por isso, em 5 de dezembro de 1921, a direção decidiu banir qualquer prática de futebol feminino nos estádios no país.

Após a Copa do Mundo 1966, realizada na Inglaterra, o interesse pelo esporte cresceu e a Federação Inglesa de Futebol decidiu voltar atrás e, em 1969, oficializou o apoio ao futebol feminino no país. Em 1971, a UEFA  (União das Associações Europeias de Futebol) instruiu seus respectivos parceiros a gerir e promover o futebol feminino e, na Europa, ele foi consolidado nos anos seguintes.

Paixão nacional, mas não pra elas

No Brasil, a história do futebol feminino se assemelha à europeia. Até a década de 40, o futebol entre mulheres era longe de clubes ou grandes ligas, embora os registros das primeiras partidas datem dos anos 20. Apesar de ainda não ser proibida, a modalidade era considerada violenta e ideal apenas para homens.

Em 1940, houve jogos entre mulheres no Estádio do Pacaembu. Mas, essa visibilidade gerou revolta em parte da sociedade, e as notícias sobre mulheres jogando futebol provocaram esforços da opinião pública e autoridades da época para a proibição.

A primeira proibição ocorreu através de um processo de regulamentação do esporte no Brasil. Criou-se o CND (Conselho Nacional de Desportos). Foi então instituído um decreto-lei (3199, art 54): Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”. O decreto proibia não apenas o futebol, mas todos os esportes considerados não-femininos ou da “natureza da mulher”.

Em 1965, já no governo militar, o decreto-lei é novamente publicado. Desta vez, de forma mais detalhada. Assim como em 1941, circulam novas notícias de mulheres jogando futebol de forma clandestina. Por conta da proibição, há poucos registros. Desta vez, a deliberação citava especificamente a modalidade.

Presidente Getúlio Vargas foi o responsável pela proibição do futebol feminino / Hulton Archive/Getty Images

Presidente Getúlio Vargas foi o responsável pela proibição do futebol feminino / Hulton Archive/Getty Images

Equipe do Corinthians de Pelotas, na década de 1950,- Foto: Divulgação via Futebol Feminino do Brasil

Equipe do Corinthians de Pelotas, na década de 1950,- Foto: Divulgação via Futebol Feminino do Brasil

Seleção Brasileira na Copa do Mundo Experimental Feminina, em 1988 | Museu do Futebol

Seleção Brasileira na Copa do Mundo Experimental Feminina, em 1988 | Museu do Futebol

Queda da lei, mas pouco apoio

Apenas no fim da década de 70 foi revogada a lei que proibia as mulheres de jogarem futebol. No entanto, o futebol feminino não recebia qualquer estímulo de clubes e federações, ainda enfrentando proibições pelo país.

Após longos 42 anos (em 1983), a regulamentação do futebol feminino veio, quando foi permitido que se pudessem competir, criar calendários, utilizar estádios e ensinar nas escolas, graças à luta de jogadoras e à relevância econômica internacional.

Cinco anos depois, em 1988, a Fifa realizou, na China, um Mundial de caráter experimental. Em inglês, foi chamado de Women’s Invitational Tournament e uma seleção brasileira foi montada para competir, considerando atletas dos times Radar do Rio e Juventus (SP).

Não houve nenhuma confecção especial de roupas para as jogadoras, que viajaram para o Mundial com as sobras das roupas da delegação feminina. Foi um torneio que deu o pontapé inicial para o desenvolvimento da modalidade feminina em todo o mundo. Ao todo, 12 seleções participaram, e o Brasil ficou com bronze nos pênaltis.

De lá pra cá, foi apenas começo de uma história intensa…

Resistência e Competência

Conheça as principais conquistas do Futebol Feminino brasileiro

Primeira medalha FIFA em 1999
1999
Primeira medalha FIFA

Ainda tratada com muito amadorismo no país, a seleção feminina se superou, ganhou da Noruega nos pênaltis na disputa pelo bronze.

Ouro no Pan de Santo Domingo em 2003
2003
Ouro no Pan de Santo Domingo

No mesmo ano de estreia de Marta em Copas do Mundo, o Brasil foi eliminado nas quartas de final; mas foi medalhista de ouro no Pan de Santo Domingo.

Prata nas Olimpíadas da Grécia em 2004
2004
Prata nas Olimpíadas da Grécia

Com Pretinha, Marta, Formiga e Cristiane no elenco, o Brasil chega à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2004, na Grécia. Foi início de uma geração que se tornaria a mais vitoriosa do Brasil.

Primeira medalha FIFA em 1999
2007
Ouro no Pan-Americano do Rio

Em julho, no Pan do Rio, o Maracanã lotou para ver a medalha de ouro conquistada com goleada por 5 a 0 contra os EUA, marcando um dos grandes momentos da modalidade no país.

Prata na Copa da China em 2007
2007
Prata na Copa da China

Em setembro, na China, o Brasil ficou com a segunda colocação na Copa do Mundo feminina, perdendo para a Alemanha na decisão

Prata nas Olimpíadas de Pequim 2008
2008
Prata nas Olimpíadas de Pequim

O Brasil chegou novamente a uma decisão olímpica. Acabou derrotado na decisão pelos Estados Unidos, mas ficou com a prata.

Seleção permanente em 2014
2014
Seleção permanente

Foi criada a seleção feminina permanente para colocar em atividade jogadoras que estivessem sem um calendário preenchido.

Marta com seus 6 prêmios de melhor jogadora do mundo
2018
6 vezes Marta

Considerada a melhor jogadora do mundo por 6 vezes, Marta conquistou o maior prêmio individual da categoria em 2006, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2018!

Atuação da Conmebol em 2019
2019
Atuação da Conmebol

A Conmebol tomou a decisão de obrigar os clubes que desejam disputar suas competições no masculino a terem times femininos a partir de 2019. O caminho foi seguido pela CBF.

Fonte:https://www.bancobmg.com.br/futebol-feminino/sobre-o-futebol-feminino/historia/#:~:text=No%20Brasil%2C%20a%20hist%C3%B3ria%20do,e%20ideal%20apenas%20para%20homens.